IA nos Negócios: MACKENZIE | Marcos Nepomuceno Duarte
Pró-reitor de Graduação do Mackenzie, diz que a tecnologia precisa ser mais um recurso da formação, a serviço do ser humano, e não o contrário
27 de fevereiro de 2025
Prestes a completar 155 anos de história, a Universidade Presbiteriana Mackenzie vive tempos de transformação graças à evolução da inteligência artificial. Na entrevista a seguir, Marcos Nepomuceno Duarte, pró-reitor de Graduação da instituição, fala sobre a criação do Centro de Inteligência Artificial do Mackenzie e explica como essa tecnologia pode servir como mais um recurso na formação do aluno.

Foto Tiago Queiroz/Estadão
1) IA não é uma tecnologia nova. Da perspectiva de uma instituição de ensino e pesquisa, o que há de novo para que esse tema se torne tão urgente?
É importante ter contexto para entender a informação. A Revolução Industrial tomou do ser humano a tarefa da força física: o vapor vem fazer aquilo que o braço, o animal ou até o curso d’água faziam. De fato, temos uma longa jornada de décadas com a inteligência artificial. Mas o que está posto em disputa agora é o campo cognitivo – e isso atinge a universidade no que sempre foi sua reserva: formar os pensadores da sociedade. É preciso reflexão e separar a IA em dois tempos: o que significa essa ferramenta e quais as questões mais estruturais que a mudança tecnológica pode trazer. Isso traz dois campos para a universidade. Um é o da aplicação da IA propriamente dita, entendendo como sala de aula e práticas de aprendizado vão ser repensadas – e aqui apostamos na hiperpersonalização. Outra é a reorganização da sociedade, que terá impactos de longo prazo no que fazemos.
2) Como a IA está mudando o Mackenzie por dentro hoje?
Somos cautelosos no processo de adoção, sempre pensando no projeto de formação do ser humano. Se não fizermos isso, vamos nos moldar à ferramenta – e não moldar a ferramenta ao projeto. Hoje, para nós, os caminhos que enxergamos nessa mudança são de criar suporte para a personalização se concretizar. É entender onde o aluno não está se desenvolvendo e personalizar as respostas, com a intermediação do docente – que também precisa ser preparado para esse movimento. Hoje, temos docentes que estão há 30 ou 40 anos na universidade, mas que veem o que eles fizeram bem durante décadas ser posto em xeque. Temos um desafio posto de mediar questões culturais, porque temos um legado e um patrimônio intelectual que precisam se ajustar às novas formas e estruturas.
3) O Mackenzie acaba de criar um Centro de IA. Como ele servirá aos estudantes?
Há alguns anos, tivemos iniciativas concomitantes de algumas escolas no tema, mas, com muita sabedoria, o reitor trouxe a ideia de que um centro desse deveria ser multidisciplinar. Hoje, o Centro de IA nasce na Faculdade de Computação, dividindo infraestrutura com a Escola de Engenharia, mas já nasce incorporando pesquisas feitas no Direito ou na Saúde, por exemplo. O centro nasce com o desafio de ser campo de prova das inovações, seja para a sala de aula ou para a sociedade. A universidade tem que ter a propriedade da investigação para subsidiar as outras áreas.
4) Muitos alunos veem a universidade como um lugar em que se paga uma mensalidade em troca de um diploma. Também é comum a visão de que a “universidade” não forma para o mercado, em um descompasso que a IA pode ampliar. Como lidar com essas duas questões?
Vemos uma jornada de três movimentos concomitantes: autoconhecimento, aprendizagem e oportunidades – e as oportunidades podem ser tanto profissionais quanto pessoais, conectadas à sociedade fora da instituição. A IA pode ajudar muito nesse processo porque pode nos ajudar a criar oportunidades e também traz instrumentos para realimentar esses processos.
5) Qual é o trabalho que vai sobrar para o ser humano – e como a universidade vai formar esse indivíduo?
O discurso sobre o futuro é um discurso do presente. Falar sobre profissões do futuro é falar dos desejos da atualidade, porque o futuro vai sempre estar em aberto. Ninguém tem a resposta sobre quais funções vão sobreviver, até porque temos de pensar num conceito ambiental maior: temos expansão do consumo e recursos finitos no planeta. Não basta só olhar as carreiras que sobreviverão e serão necessárias, mas também compreender que mundo sobreviverá. Ao mesmo tempo, esse discurso de que universidade não é importante corresponde à visão que só formamos para o trabalho. Um dos nossos desafios é dar sentido a uma vida que vai além do trabalho. As carreiras mudam e vão mudar numa velocidade muito grande. Nesse cenário, uma educação que pense além do trabalho é necessária, olhando não só o conhecimento técnico, mas também as estratégias de convivência e relacionamento que se podem construir.
6) Daqui a cinco anos, que história o sr. deseja contar sobre o Mackenzie e a inteligência artificial?
Gostaria de contar que conseguimos colocar a inteligência artificial a serviço da formação humanística e plena do ser humano. Temos clareza de que nossa missão é formar um ser humano completo – e torço para que a inteligência artificial tenha sido incorporada como mais um recurso da formação. Se não, corremos o risco da tecnologia ficar à frente e não a serviço do ser humano.
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A Série de Entrevista: “IA nos Negócios” é um espaço editorial para convidados compartilharem suas visões, experiências e inspirações com o mercado. As informações e opiniões formadas neste artigo são de responsabilidade única do autor. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.
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