Agência Geocracia
AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 23 de janeiro de 2023
AGGEOCRACIA
Pedro Ronzani, da EarthDaily Agro relembra, em entrevista à Geocracia, máxima de Deming: ‘não se gerencia o que não se mede’.
Para Pedro Ronzani, especialista em geoanalytics e seguro rural, a máxima do papa da qualidade William Deming, cunhada na década de 1950, ainda é válida quando se trata de seguro rural: “Não se gerencia o que não se mede”. Mestrando em agronomia pela pela Esalq/USP e há 14 anos atuando com agricultura digital, ele destaca algumas vantagens fundamentais na utilização de geotecnologias e sensoriamento remoto na atividade do seguro rural: o entendimento do risco e o monitoramento de portfólio. “Se conseguimos entender o que foi feito em cada gleba nos últimos anos, e qual foi o resultado em cada um desses anos, podemos estimar a chance de que um resultado seja ruim o suficiente para que um sinistro seja acionado”, afirma o diretor comercial da EarthDaily Agro, empresa de análise baseada em dados de satélite para apoiar tomada de decisões e mitigação de riscos na agricultura.
Em entrevista à Agência Geocracia, Ronzani ressalta outra vantagem da geoinformação na agricultura: separar o joio do trigo na questão do desmatamento ilegal. “A esmagadora maioria dos produtores rurais brasileiros não tem problemas de desmatamento em suas propriedades, e acaba muitas vezes arcando com as consequências daquela fração que pratica desmatamento, especialmente o desmatamento ilegal”, diz, acentuando que ferramentas como o mapeamento do desmatamento via satélite e o cruzamento desses dados com informações de titularidade da terra permitem identificar e aplicar sanções a quem efetivamente pratica esse crime: “O produtor rural médio brasileiro tem muito a ganhar com a universalização do uso deste tipo de tecnologia”.
Acompanhe, a seguir, a entrevista na íntegra.
Como as tecnologias geo estão revolucionando o ramo do seguro rural?
Aqui acredito que temos alguns pilares fundamentais nos quais podemos atuar com geotecnologias e sensoriamento remoto, sendo os principais o entendimento do risco e o monitoramento de portfólio.
A compreensão do risco envolvido em cada apólice é fundamental para o negócio. Afinal, como diz William Deming desde a década de 50, “não se gerencia o que não se mede”. Esta máxima é mais do que verdadeira quando pensamos que o fundamento desse segmento de negócios é o de que a seguradora arrecade mais dinheiro com a venda de apólices do que com o pagamento de sinistros. E a probabilidade do pagamento de sinistro em uma dada área é algo que pode ser calculado através de diferentes abordagens (o que as seguradoras o fazem com excelência!). Justamente aqui entra o sensoriamento remoto aplicado. Se conseguimos entender o que foi feito em cada gleba nos últimos anos, e qual foi o resultado em cada um desses anos, podemos estimar a chance de que um resultado seja ruim o suficiente para que um sinistro seja acionado. Com este indicador mensurado, a seguradora pode tomar a decisão de aceitar ou não este risco, ou ainda trabalhar com a precificação dele. Produtores mais instáveis pagarão um prêmio maior para ter cobertura de suas lavouras, ao passo que produtores com melhores indicadores poderão ter cobertura por um preço melhor. Este é um exemplo entre tantos outros que podemos trabalhar aliando o que há de melhor em geotecnologia e sensoriamento remoto ao seguro rural.
Quando pensamos num portfólio já segurado, há pouco que possa ser feito, mas ainda assim este pouco pode ser muito valioso. Podemos, por exemplo, lançar mão do sensoriamento remoto para comprovar um plantio dentro da janela adequada (ou não), o que pode gerar uma economia de milhões, evitando o pagamento indevido de sinistros. Indo um pouco além, para eventos onde o impacto se dá ao longo de diversas semanas, como a seca, é possível quantificarmos este impacto e a seguradora consegue saber, em tempo quase real, qual é o tamanho deste impacto em sua carteira como um todo. Isso ajuda muito, por exemplo, na provisão de caixa para o pagamento de sinistros, o que pode ser um grande desafio para o departamento financeiro.
Tanto para concessão de seguro rural como para obtenção de crédito, é fundamental a certificação da poligonal da propriedade agrícola. O Brasil registrado nos cartórios, porém, é uma Minas Gerais, o que mostra um nível elevado de imprecisão no cadastro territorial. Como ampliar a oferta de serviços das fintechs agrícolas baseadas em geo e cartografia?
Este é um ponto muito interessante. Temos que ter em mente que uma área com seu georreferenciamento certificado é o que poderíamos de chamar de “padrão ouro”, quando pensamos na malha fundiária do Brasil. E, apesar de ainda termos muito a avançar, contamos com um sistema e processos já bastante robustos no nosso país. O grande desafio é garantir que regiões com baixa proporção de áreas georreferenciadas e certificadas sejam devidamente cobertas, tendo em mente que o que leva a isso são motivos diversos, como tamanho muito reduzido do módulo rural médio, precariedade dos títulos da região, custo envolvido no processo de georreferenciamento, entre outros.
Dito isto, para que um operador de crédito ou uma seguradora possa avaliar em massa todas as suas propostas, é fundamental trabalhar com dados de alta qualidade. Isso permite maior transparência nas operações e, em última instância, maior rentabilidade no negócio. Trabalhando com este tipo de dado podemos ter certeza de que a área avaliada ou monitorada realmente é a área de interesse. Hoje, ainda é comum o uso de fontes de dados que não comprovam posse da terra e nem têm essa finalidade, como o CAR. Isso se dá em função da falta de dados de melhor qualidade, e é um sinal da oportunidade de melhoria que há quando se trata da confiabilidade dos dados de base utilizados nessas operações.
Um dos maiores desafios do agronegócio brasileiro é dar respostas a acusações de desmatamento ilegal vindas, sobretudo de países Europeus. Como as ferramentas de geoinformação podem ajudar o produtor brasileiro a se defender?
Acredito que aqui temos uma questão primordial que é a de postura. Há desmatamento e ainda há desmatamento ilegal no Brasil. Vimos uma forte diminuição entre os anos de 2000 e 2010, o que precisa ser comemorado e capitalizado. Após esse período se seguiu uma estabilização do número e, mais recentemente, temos uma tendência de aumento, especialmente na Amazônia legal. Acredito que o primeiro passo para melhorarmos nossa credibilidade é aceitar os números monitorados com maestria pelo Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], há décadas. A partir desse diagnóstico, podemos criar planos não só de mitigação ao desmatamento, como de melhoria de imagem junto à comunidade internacional.
O principal ponto a ser trabalhado é que a esmagadora maioria dos produtores rurais brasileiros não tem problemas de desmatamento em suas propriedades, e acaba muitas vezes arcando com as consequências daquela fração que pratica desmatamento, especialmente o desmatamento ilegal. Precisamos separar o joio do trigo. Não vejo muito sentido em sancionar ou penalizar um país inteiro pelos malfeitos de alguns poucos, ainda mais tendo em consideração que podemos mapear e identificar, um a um, quem faz uso de práticas condenadas nacional e internacionalmente, como o desmatamento. E aqui entra algo fundamental: ferramentas como o mapeamento do desmatamento via satélite e o cruzamento desses dados com informações de titularidade da terra nos permitem identificar e, aí sim, aplicar sanções ou punir quem pratica, por exemplo, desmatamento ilegal. Portanto, o produtor rural médio brasileiro tem muito a ganhar com a universalização do uso deste tipo de tecnologia. Ainda que óbvio, cabe ressaltar que, quando falamos em mais transparência, alguns poucos que se beneficiam de um sistema mais opaco não só não se beneficiarão como estarão mais expostos, e é natural que ofereçam resistência. O que não pode acontecer é o produtor que não deve nada se sentir ameaçado pela tecnologia, já que, sem ela, ele com certeza irá pagar a conta de quem burla a lei, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde.
Qual a sua visão de futuro para a agricultura com o aprimoramento das tecnologias geo, como a ampliação das constelações de órbita baixa e a universalização do 5G?
Acho que são temas distintos, que conversam entre si e que tem suas vantagens. No final das contas, serão todas ferramentas que estarão disponíveis e que serão úteis aos produtores, uma vez que gerem retorno. Como estamos falando de algo muito novo, muitas vezes esse retorno ainda não é tão evidente, mas ele existe.
Essas tecnologias trazem e trarão cada vez mais conhecimento sobre as lavouras e otimização de processos. Tecnologias auxiliares se valerão desses benefícios para agregar valor quando trabalhadas em conjunto. O uso cada vez mais comum de taxa variável na aplicação de fertilizantes é um desses exemplos. Gestão de frotas com otimização de rendimento operacional também. O fundamental em todos esses casos é o produtor estar bem preparado para conhecer bem todas essas tecnologias, especialmente suas limitações. Falamos sempre muito nos potenciais, porém temos que ter ciência de que todas essas tecnologias não tendem a promover nenhuma disrupção nos sistemas agrícolas, e sim uma otimização do que já temos consolidado hoje, o que é excelente! Penso sempre que temos um potencial produtivo para explorar com o milho, por exemplo, de mais de 20 toneladas por hectare, enquanto hoje atingimos, em lavouras boas, pouco mais de 60% disso. Para preenchermos esse potencial, as tecnologias são e serão cada vez mais essenciais.
Acredito que a ampliação das constelações de satélites trará dados fundamentais não só aos produtores, mas a diversos outros players que têm interface com o agronegócio. Poderemos migrar para produtos com cada vez mais qualidade, como os oferecidos por satélites de alta órbita, como o Sentinel 2, por exemplo, porém com resolução espacial, temporal e espectral aumentada. Isso trará um oceano de oportunidades, principalmente para a agricultura. Uma maior cobertura de sinal 5G também. Veremos cada vez mais dispositivos inteligentes e conectados facilitando a vida do produtor e otimizando os resultados das suas lavouras.
Em suma, ainda não temos clareza de como será o futuro dentro das fazendas, o que sabemos é que será muito diferente do que é hoje.
Foto: Priscila Tavares
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