Trends: “A gente não nasce sendo pai e mãe, mas pode estudar sobre isso”, diz a idealizadora do Congresso Internacional de Educação Parental, Ivana Moreira

À frente do maior congresso de educação parental da América Latina, que chega à sua 6ª edição, a jornalista e educadora parental Ivana Moreira defende que criar filhos exige preparo e informação.

25 de setembro de 2025

Trends: “A gente não nasce sendo pai e mãe, mas pode estudar sobre isso”, diz a idealizadora do Congresso Internacional de Educação Parental, Ivana Moreira

Inspirada pela própria experiência, ela transformou sua trajetória em uma missão: reunir especialistas e famílias para discutir os desafios da parentalidade.

Ivana Moreira, idealizadora do Congresso Internacional de Educação Parental. Foto: Gustavo Andrade

1) Você tem uma trajetória que une jornalismo, parentalidade e projetos de impacto social. O que te motivou a se aprofundar no tema da educação parental?

Quando meu segundo filho teve um diagnóstico de TDAH e TEA, bateu com força a história de que ele precisaria de uma mãe mais presente. Queria parar de trabalhar, cuidar dele, e, de fato, foi o momento da minha carreira em que deixei a empresa onde trabalhava e resolvi que ia empreender nessa área de maternidade para conciliar as duas coisas. Não foi uma tarefa muito simples, mas comecei a estudar e descobri que existia uma área da ciência chamada educação parental, que mostra que a gente não nasce sendo pai e mãe, mas pode estudar sobre isso. Hoje, há muita informação disponível, então foi assim que comecei esse início da jornada.

2) Como surgiu a ideia de criar o Congresso Parental?

Eu sempre pergunto: você apanhou na infância? Eu apanhei pra caramba, muito. Minha mãe não me amava? Claro que ela me amava, mas ela achava que era assim, pois também apanhou na infância. O que mudou de lá para cá foi a informação. Hoje, ela sabe que castigo físico cria sequelas e deixa marcas no desenvolvimento da criança. Fui percebendo que existia um mercado acontecendo no Brasil, em que especialistas e profissionais estavam estudando para orientar pais e mães, só que eles estavam espalhados. Talvez a minha visão de jornalista tivesse me mostrado que, para que mais pais e mães descobrissem que podem estudar para criar melhor seus filhos, era preciso ganhar corpo. Foi quando resolvemos criar um congresso: um evento que reunisse especialistas que estudavam parentalidade, para que juntos pudéssemos discutir como transformar uma família de cada vez.

3) O Congresso Parental chega à 6ª edição como o maior da América Latina. Quais temas ou tendências devem ganhar maior destaque nos debates?

É impossível, neste ano, não falar sobre o mundo digital: o uso de crianças e adolescentes nas redes, como os pais estão lidando com isso e de que forma poderiam proteger mais os filhos nesse ambiente. Acho que há outra pauta muito importante, que diz respeito às escolas, ao seu papel e à parceria com a família. Não existe solução se não for na parceria: nenhuma escola será capaz de garantir um desenvolvimento saudável para crianças e adolescentes sem o apoio da família, e nenhuma família consegue resolver sozinha, pois parte fundamental da escola é a interação social.

4) Você acha que o mundo digital é um vilão na educação parental?

Não acho que seja um vilão, mas sim um grande desafio. Não podemos esquecer que a geração de hoje irá viver inserida nesse mundo. Não há como não querer que seu filho domine as ferramentas digitais, pois, caso contrário, ele ficará fora do mercado. A questão é fazer essa geração, que já nasceu digital, entender que o mundo online é muito importante e rico, mas que o mundo offline continua existindo e é tão importante e rico quanto. No fim, trata-se muito mais de equilíbrio.

5) Quais são hoje os maiores desafios da parentalidade?

Acho que o grande desafio é entender que precisamos nos preparar, já que os pais que se preparam ainda são minoria. Estudamos para tudo na vida: passamos quatro anos na faculdade, fazemos pós-graduação. E, para a coisa mais importante que vamos fazer, que é gerar outro ser humano, o futuro da humanidade, não estudamos. Esta é a primeira geração que pode fazer muita diferença, porque tem informação. Hoje, não faltam estudos da neurociência e da psicologia mostrando que as vivências na infância, entre pais e filhos, definem as características que as crianças levarão para a vida adulta.

6) Qual dica você dá para pais que estão em dificuldades em relação à educação?

A minha principal dica é: procure ajuda. Existem cursos, livros, redes de apoio. Mas procure gente preparada para te orientar, porque a pior coisa que você pode pensar é que o seu caso não acontece na casa de ninguém. Ter informação faz muita diferença, não fique sozinho sofrendo.

7) O que o público pode esperar este ano do Congresso? Qualquer pessoa pode participar?

Sim, qualquer pessoa interessada em parentalidade, nessa discussão, pode fazer a inscrição, mas o congresso tem um foco em profissionais que estão estudando, que trabalham com orientação de pais e que estão se especializando em parentalidade.

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