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Os avanços e os desafios na jornada de mulheres com câncer

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 28 de março de 2025

Meet Point Estadão Think discute com especialistas os impactos da testagem genética, dos tratamentos e das políticas públicas no prognóstico de pacientes com tumores femininos.

Os avanços na testagem genética e nos tratamentos personalizados estão transformando o cuidado de pacientes com tumores femininos, como câncer de mama, ovário e endométrio. No entanto, ainda há desafios importantes, como o diagnóstico tardio e a desigualdade no acesso às terapias mais modernas. Esses temas foram debatidos no Meet Point Estadão Think, realizado na última terça-feira (25).

Com patrocínio da AstraZeneca, a transmissão contou com a presença da oncologista Andrea Gadelha, líder da oncoginecologia do A.C.Camargo Cancer Center; da mastologista Rosemar Rahal, professora da Universidade Federal de Goiás, presidente da Comissão de Especialidades da Febrasgo e membro da diretoria nacional da Sociedade Brasileira de Mastologia, e da psico-oncologista Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia. A moderação foi da jornalista Camila Silveira.

Testagem essencial

Andrea destacou a importância das testagens genética e molecular para a personalização do tratamento. “Toda paciente diagnosticada com câncer de mama precisa passar por testes que definem seu tipo de tumor, o que permite terapias mais direcionadas”, explicou. A mesma abordagem se aplica aos cânceres de ovário[1],[2],[3] e endométrio[4], nos quais a identificação de marcadores genéticos pode melhorar o prognóstico e orientar condutas mais eficazes.

O teste molecular que investiga a presença de mutação genética no tumor, conhecido como teste somático, recebeu recomendação positiva de incorporação pela Conitec em 2024, e, de acordo com os prazos do decreto nº 7.646/2011, a expectativa para sua implementação é abril/2025. No entanto, o acesso à testagem genética germinativa, que investiga se a mutação é hereditária, ainda é limitado. Apesar de existirem dois projetos de lei nacionais tramitando na Câmara dos Deputados (PL 25/2019 e PL 265/2020) e seis Estados e o Distrito Federal com legislações que garantem o exame para pacientes com câncer de mama e ovário, apenas Goiás e o Distrito Federal disponibilizam de fato o teste para as pacientes do SUS.

Câncer silencioso

O câncer de ovário é um dos mais letais entre as neoplasias ginecológicas. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 77% dos casos são diagnosticados em estágios avançados[5]. “Não há um exame de rastreamento eficaz, como a mamografia para o câncer de mama”, alertou Andrea. O diagnóstico precoce depende de exames de imagem e testes tumorais, que nem sempre estão disponíveis a todas as pacientes.

Desafios do câncer de endométrio

O câncer de endométrio vem crescendo, impulsionado por fatores como obesidade. O principal sinal de alerta é o sangramento vaginal anormal, mas o desconhecimento leva a atrasos no diagnóstico. O tratamento inicial é cirúrgico, porém, testes moleculares ajudam a classificar os tumores e definir estratégias terapêuticas. “A imunoterapia tem se mostrado uma alternativa promissora, especialmente para pacientes com alterações genéticas”, afirmou Andrea.

A desigualdade no acesso a exames e tratamentos segue como uma das principais barreiras enfrentadas pelas pacientes. A nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (Lei 14.758/2023) busca reduzir essa disparidade, ampliando o acesso ao diagnóstico e às terapias.

Luciana destacou a importância do Programa de Navegação para Pacientes Oncológicos, previsto na nova política. “Muitas mulheres se perdem no sistema de saúde. Um profissional que as oriente e garanta o seguimento adequado é essencial”, disse.

Já Rosemar reforçou que as sociedades médicas têm trabalhado para ampliar a testagem genética no SUS. “Entregamos um documento ao Ministério da Saúde e mostramos que a Fiocruz já possui infraestrutura para realizar esses testes em larga escala”, disse. “O estudo também demonstrou que a testagem é custo-efetiva e pode salvar vidas”, completou.

Medidas prioritárias

Ao final do debate, as especialistas apontaram prioridades para aprimorar a jornada das pacientes. Andrea destacou a necessidade de estruturar uma linha de cuidado integrada, garantindo testagem e tratamento adequados. Luciana ressaltou a urgência do financiamento para novos medicamentos no SUS, enquanto Rosemar defendeu uma comunicação mais eficiente entre médicos e pacientes. A discussão promovida pelo Meet Point Estadão Think evidenciou que avanços científicos e tecnológicos estão disponíveis, mas o acesso ainda precisa ser ampliado. A colaboração entre governo, sociedade civil e instituições de saúde é fundamental para transformar essa realidade.

Referências:

[1] DiSilvestroP, Banerjee S, Colombo N, ScambiaG, Kim BG, OakninA, et al; SOLO1 Investigators. Overall Survival With Maintenance Olaparib at a 7-Year Follow-Up in Patients With Newly Diagnosed Advanced Ovarian Cancer and a BRCA Mutation: The SOLO1/GOG 3004 Trial. J Clin Oncol. 2023 Jan 20;41(3):609-617.

[2] Moore K, Colombo N, ScambiaG, Kim BG, OakninA, Friedlander M, et al. Maintenance Olaparib in Patients with Newly Diagnosed Advanced Ovarian Cancer. N Engl J Med. 2018;379(26):2495-505.

[3] DiSilvestroP, Banerjee S, Colombo N, ScambiaG, Kim B, OakninA, et al. 517O – Overall survival (OS) at 7-year (y) follow-up (f/u) in patients (pts) with newly diagnosed advanced ovarian cancer (OC) and a BRCA mutation (BRCAm) who received maintenance olaparibin the SOLO1/GOG-3004 trial. Annals of Oncology, 2022; 33 (suppl. 7): S235-S282. 10.1016/annonc/annonc1054

[4] Westin SN, Moore K, Chon HS, Lee JY, Thomes Pepin J,Sundborg M, et al.; DUO-E Investigators. Durvalumab Plus Carboplatin/Paclitaxel Followed by Maintenance Durvalumab With or Without Olaparib as First-Line Treatment for Advanced Endometrial Cancer: The PhaseIII DUO-E Trial. J Clin Oncol. 2024 Jan 20;42(3):283-99.

[5] Femama. Sociedade Brasileira de Mastologia. Implementação de política pública para o acesso aos testes genéticos na detecção de mutações em BRCA no SUS. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1gmMwkQvf3ujrHbL21g-Wr3vZFP6YUNgi/view.

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