Indústria, porto seguro num mundo complexo
AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 7 de dezembro de 2022
CNI
O mundo entrará em 2023 sob uma nova realidade econômica, causada pela profusão de circunstâncias que resultam em um cenário complexo e multifacetado. Ao mesmo tempo que os efeitos da pandemia de covid-19 continuarão sendo percebidos – até porque algumas transformações decorrentes da crise sanitária são definitivas, como o avanço do home office -, tudo indica que o conflito entre Rússia e Ucrânia não terá um desfecho rápido e causará ainda mais dificuldades ao redor do planeta, já que os dois países são fornecedores importantes de energia e alimentos.
Será preciso, ainda, lidar com fatores como o advento constante de tecnologias disruptivas, os investimentos para o avanço da Quarta Revolução Industrial – também chamada de Indústria 4.0 – e a crescente preocupação com as mudanças climáticas. Pesquisa recente da CNI evidenciou o quanto a sustentabilidade é, cada vez mais, parte da estrutura organizacional da indústria brasileira: 60% das empresas já têm área dedicada especificamente ao tema, grande salto em relação ao ano passado, quando esse número era de apenas 34%.
Muitos países definiram que a melhor estratégia para enfrentar tantas mudanças profundas ocorrendo simultaneamente é fortalecer a indústria, seja por meio da ampliação da infraestrutura, seja por investimentos em novas tecnologias e fontes de energia. As principais economias do mundo desenvolveram planos estruturantes de apoio e incentivo ao setor industrial. São bilhões e bilhões de dólares destinados a uma nova geração de políticas estabelecidas a partir da convicção de que esses investimentos dão retorno.
A ideia é contemplar não apenas a criação de oferta, mas a captura ativa de mercados, com base na combinação entre alta escala, inovação e desenvolvimento tecnológico. Em meio à conjuntura que evidenciou a fragilidade da cadeia global de suprimentos, uma das metas desses programas é reduzir a dependência de fornecedores externos e acelerar a formação de novas alianças internacionais.
O passo que o Brasil precisa dar
As medidas isoladas de apoio à indústria que vemos no Brasil não representam uma estratégia comparável às políticas estruturantes vistas em outros países. O País precisa de uma política industrial sólida, que seja prioridade de Estado, de longo prazo, e aproveite as oportunidades de inserção competitiva e geração de empregos de qualidade, avalia a gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha.
Os recursos públicos direcionados à indústria, responsável por 22,2% do PIB do País, são muito inferiores a essa contribuição. No ano passado, o montante de renúncias tributárias foi de R$ 33,6 bilhões para a indústria e de R$ 51,6 bilhões para a agropecuária, que responde por 8% do PIB. De acordo com a CNI, cada real produzido na indústria gera R$ 2,43 na economia brasileira, enquanto essa mesma relação, na agropecuária, fica em R$ 1,75.
Importante lembrar que o agronegócio, que gera 27,6% do PIB brasileiro, é um conceito que engloba não apenas a produção agrícola, pecuária e florestal, mas toda a cadeia envolvida. A indústria tem participação decisiva para esse resultado, ao fornecer máquinas e equipamentos, fertilizantes e defensivos, alimentos para animais e diversos produtos manufaturados.
Artigo
Por uma política industrial robusta
A industrialização tardia e dependente foi, certamente, um dos fatores que impediram o Brasil de alcançar um maior desenvolvimento até agora. Para nos adaptarmos a um mundo em constantes transformações geopolíticas, com aumento da rivalidade entre Estados nacionais, reconfiguração das cadeias de valor global e escassez de insumos, entre outros, é crucial a criação de uma política industrial robusta, que fortaleça as cadeias locais de fornecimento com maior agregação de valor e inovação, tornando o País mais resiliente diante de crises de diversas naturezas.
O pressuposto dessa política é a constituição de setores com empresas capazes de assimilar e produzir novas tecnologias. Além de absorvedores, precisamos ser desenvolvedores dessas tecnologias, a despeito das incertezas e das tecnologias inteligentes e conectadas criadas nos países avançados, bem como da necessidade de enfrentar as questões climáticas e ambientais. Ressalte-se que esse mesmo contexto complexo também abre oportunidades para a construção de uma política tecnológica e industrial sustentável própria.
É preciso, ainda, desenvolver tecnologias habilitadoras, que perpassam vários setores e contribuem fortemente para a agenda da descarbonização, aprimorando desde o que desenvolvemos há décadas, como o uso do etanol, até o que buscamos agora no hidrogênio verde. Outra providência essencial é a implementação de uma política macroeconômica convergente com a política industrial, para que o País possa ter a capacidade de equilibrar seu balanço de pagamentos ao longo do tempo. Para isso, é importante um Estado forte, que possa abrir caminhos para montar instituições de fomento, como o BNDES, com capacidade de planejamento e ação.
Faz-se necessário também o estreitamento das relações das empresas com a academia e a sociedade civil, com vistas à construção de ambientes democráticos que possam desenvolver pactos de curto e longo prazos. Ao investir na indústria, de forma articulada, estaremos construindo os alicerces do País para gerar mais riquezas no futuro.
(*) Este artigo não expressa a posição do BNDES, mas, sim, da autora.