NAvegue pelos canais

CVM avalia liberar crowdfunding para produtores rurais, e isso pode transformar o crédito no campo
Por Markable Comunicação

CVM avalia liberar crowdfunding para produtores rurais, e isso pode transformar o crédito no campo

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 17 de dezembro de 2025

*Por Henrique Galvani, CEO da Arara Seed

O Brasil é uma potência mundial na produção de alimentos, mas ainda enfrenta um gargalo histórico: o acesso à capital no campo. Embora o agronegócio represente mais de 25% do PIB nacional, o crédito rural continua altamente concentrado em poucos agentes e dependente de linhas bancárias tradicionais.

Esse cenário pode estar prestes a mudar. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu a Consulta Pública nº 05/2025, que propõe modernizar a Resolução CVM nº 88/2022 — norma que regula o crowdfunding de investimento — e autorizar produtores rurais a captar recursos diretamente com investidores, por meio de plataformas reguladas. A medida tem potencial de democratizar o crédito agrícola, aproximar o mercado de capitais da economia real e reduzir a dependência histórica de bancos, criando uma porta de entrada de financiamento para o pequeno e médio produtor rural.

Atualmente, apenas pequenas empresas com faturamento anual de até R$ 40 milhões podem recorrer ao modelo de captação simplificada, conforme a Resolução CVM nº 88/22. A nova regra, se aprovada, permitiria que produtores levantassem até R$ 2,5 milhões por safra em plataformas reguladas, com total transparência e supervisão da autarquia.

Esse movimento ocorre em um momento de transformação estrutural no agro. Entre março de 2023 e março de 2025, o patrimônio líquido dos Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro) cresceu 204%, saltando de R$ 14,7 bilhões para R$ 44,7 bilhões, enquanto os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) avançaram 42%, de R$ 110 bilhões para R$ 156 bilhões, segundo dados da CVM. O mercado financeiro já entendeu que o agro é estratégico — e agora é o momento de o produtor ocupar o mesmo espaço.

Um novo modelo de financiamento para o agro

Se implementada, a proposta da CVM representará o início de um novo ciclo de financiamento rural. O produtor passará a ser visto como uma “empresa”, capaz de acessar o mercado de capitais, emitir títulos e se comunicar com investidores de forma direta.

Isso exigirá governança, transparência e gestão profissionalizada. O produtor precisará manter a separação entre contas pessoais e empresariais, estruturar relatórios financeiros e adotar boas práticas contábeis. Mas esse processo de formalização é positivo, ajuda a construir reputação, histórico de crédito e acesso a capital em condições mais competitivas.

Outro ponto essencial é a segurança jurídica dos recebíveis rurais. CPRs, contratos de barter e fluxos futuros de produção ainda enfrentam desafios de registro e execução. Para que o modelo funcione, será preciso garantir que as plataformas, registradoras e cartórios atuem de forma integrada, oferecendo clareza e proteção tanto ao produtor quanto ao investidor.

Desafios e oportunidades

O sucesso dessa nova etapa dependerá da maturidade de todo o ecossistema. As plataformas de investimento coletivo terão papel decisivo ao aprimorar seus processos de análise de crédito, gestão de risco agrícola e due diligence, incorporando variáveis como produtividade, clima e histórico de safra.

Também será necessário investir em educação financeira e capacitação dos produtores, para que compreendam conceitos de compliance, governança e relacionamento com investidores. Mais do que captar recursos, trata-se de formar uma nova geração de empreendedores rurais, protagonistas do próprio crescimento.

O campo no centro da inovação

A proposta da CVM vem em um momento em que o agronegócio brasileiro busca se conectar a temas como inovação, sustentabilidade e transição verde. Modelos como o crowdfunding podem ser ferramentas poderosas para financiar tecnologias regenerativas, bioinsumos, agricultura sintrópica, gestão de carbono e monitoramento climático, áreas em que startups e produtores de ponta já estão atuando. O campo começa a ocupar o espaço que merece no mercado de capitais. Levar o investidor urbano para o agro é um passo decisivo para financiar a transição sustentável e fortalecer o pequeno e médio produtor.

Mais do que uma atualização regulatória, trata-se de um projeto de inclusão financeira, tecnológica e ambiental — um agro conectado ao mercado de capitais e ao futuro.

* Henrique Galvani é sócio-fundador e CEO da Arara Seed, primeira plataforma de equity crowdfunding voltada exclusivamente para startups do agronegócio. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade Paulista, Galvani atua há 10 anos no setor, com passagens pelo Grupo BLB e pela BLB Ventures. Em 2024, foi reconhecido pela Forbes como um dos talentos do agro na lista Under 30.

A OESP não é(são) responsável(is) por erros, incorreções, atrasos ou quaisquer decisões tomadas por seus clientes com base nos Conteúdos ora disponibilizados, bem como tais Conteúdos não representam a opinião da OESP e são de inteira responsabilidade da Markable Comunicação

Encontrou algum erro? Entre em contato

Compartilhe