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Mobilidade urbana e outros desafios da periferia

Mobilidade urbana e outros desafios da periferia

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 20 de setembro de 2021

Por Agência 99

A vida na periferia apresenta diversos desafios. O acesso a direitos básicos – como educação, saúde e habitação – muitas vezes é negligenciado nas áreas mais populares das grandes metrópoles.
Em algumas ocasiões, determinadas situações se transformam em problemas constantes nas áreas menos favorecidas. A liberdade de escolha do transporte, por exemplo. E a pandemia agravou determinados problemas. Segundo pesquisa realizada pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), os municípios brasileiros mais vulneráveis à doença também são aqueles cuja população apresenta as maiores diferenças socioeconômicas.
“As casas com densidade mais alta certamente facilitam a disseminação do vírus, assim como a falta de saneamento e de recursos em determinados pontos das cidades brasileiras”, explica Thomas Carlsen, COO e co-fundador da mywork, startup especializada em controle de ponto online.
De acordo com ele, regiões que concentram trabalhadores que realizam a chamada migração pendular (deslocamento diário entre as cidades) podem apresentar um número maior de casos da doença. Isso porque transportam o vírus dos aglomerados urbanos.
Municípios populosos como São Paulo e Rio de Janeiro são exemplos. Apesar do rendimento médio ser o maior do país (em torno de R$ 1.504), os recursos não são distribuídos de forma equilibrada entre a população, o que eleva os indicadores de desigualdade, segundo dados da pesquisa.
Pouco mais de 25% da população brasileira reside em casas com densidade alta. Ou seja, com mais de duas pessoas por dormitório. Em cidades com população média de aproximadamente 27 mil habitantes, esse número sobe para 50%”. O aumento dos casos de contaminação em municípios com grande desigualdade social é um triste reflexo da realidade de muitos centros urbanos no País”, comenta Thomas Carlsen.

Consequências

A arquiteta e urbanista Cláudia Villela afirma que as consequências para a qualidade de vida desses indivíduos que moram em locais mais afastados são enormes. Vale destacar que, quanto mais integrado, bem servido de transportes e “bem localizado”, mais valorizado o espaço tende a ser.
Entretanto, Cláudia Villela lembra que, enquanto alguns cidadãos podem escolher um lugar com infraestrutura adequada para morar, muitos outros habitam onde é possível de acordo com sua renda.
“Essas escolhas geram consequências para a população como estar mais próxima ou mais afastada do seu trabalho, de serviços essenciais, das alternativas de lazer e de cultura da cidade. Dessa forma, percebemos que o espaço urbano reflete, fortalece e consolida as desigualdades da sociedade”, diz.
Nesse sentido, a mobilidade tem papel fundamental conforme explica a urbanista. Isso porque deixa em evidência a diferença social existente, através dos deslocamentos precários que grande parte da população sofre.
“É indispensável reconhecer a sociedade em que vivemos como um organismo plural, aberto e com carências para se construir cidades que possam corresponder aos diferentes interesses”, destaca.
Portanto, Cláudia Villela acredita que a mudança precisa ser urgente. “Torna-se necessário definir os rumos das políticas públicas junto com a população a fim de planejar, produzir e governar o espaço habitado de forma participativa. E, com isso, promovendo espaços democráticos a partir da mobilidade, desde as calçadas com passeios para trânsito de pedestres, ciclovias, vias automotivas, até os pontos de embarque e desembarque de passageiros, terminais, sinalização de trânsito”, conclui.

Motor da economia

Além de contribuir na identificação das diferenças sociais, a mobilidade urbana auxilia na luta para reduzir as desigualdades. Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) demonstra que a 99 impactou na geração de 331 mil novas posições de trabalho indiretas, em diversos setores da economia. Além disso, contribuiu para movimentar a arrecadação de R$ 1,3 bilhão em impostos.
A pesquisa mostrou que os efeitos na economia mediados pela atuação da 99 são calculados a partir da cadeia de valor gerada pelos ganhos dos motoristas, por meio de um modelo de insumo-produto. Ele caracteriza a estrutura econômica através das receitas dos motoristas que utilizam o aplicativo, e suas estruturas de gastos familiares projetados com base nos dados de pesquisas nacionais oficiais.
Como efeito, foram circulados R$ 6,7 bilhões em valores pagos por corridas, além de R$ 1,4 bilhão através de gastos dos motoristas que circulam na economia, como operacionais, manutenção de veículos, alimentação, vestuário, internet, entre outros.

Poder da comunicação

Para superar as complexas dificuldades que envolvem o dia a dia de quem mora na periferia, existem “amigões”, que se transformam em verdadeiros anjos para a comunidade. É o caso do Embarque no Direito, jornal impresso criado em 2018 para “traduzir” o direito aos moradores de regiões como Capão Redondo, Campo Limpo, Jardim Ângela e São Luís, na periferia da zona sul da capital paulista.
Projeto do jornalista Tony Marlon, atualmente tem Riviane Christine Lucena Leitte no comando. “O Embarque no Direito é um jornal impresso para explicar os direitos básicos, como direito ao transporte público, educação, moradia, em uma linguagem mais simples. Isso porque o `juridiquês’ é pensado, talvez, para um número limitado de pessoas entenderem”, afirma ela.
Em formato de tabloide, cerca de 15 mil exemplares são distribuídos bimestralmente nos pontos de maior circulação da zona sul por volta das 5h30, principalmente para pessoas de 35 a 50 anos. Segundo ela, o formato é direcionado exatamente para as pessoas que têm acesso limitado à internet.
“São nossos pais, tios. Essa galera que ainda não aprendeu muito bem a lidar com a internet, acredita em fake news e recebe informação pelo WhatsApp e não consegue filtrar o que é verdade e o que não é”, diz.
A distribuição é realizada por 10 jovens. “Dos 20 locais selecionados, 10 são de grande circulação de pessoas indo trabalhar, como pontos de ônibus, terminais de trem e metrô. Pensamos também na rotatividade desses jovens para gerar trabalho e renda para o maior número de pessoas possível. Além disso, temos 10 organizações parceiras, que são ONGs da região onde também colocamos o jornal”, conta.

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