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Brasil busca liderança na economia verde com Política Nacional de Minerais Críticos
Debate sobre o marco legal dos minerais críticos e estratégicos propõe ampliar financiamento, inovação e sustentabilidade no setor mineral. Ricardo Lima / Agência Minera Brasil

Brasil busca liderança na economia verde com Política Nacional de Minerais Críticos

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 15 de outubro de 2025

Debate na Comissão de Transição Energética reforçou urgência de instrumentos de fomento, definição taxonômica e governança compartilhada

Por Ricardo Lima

Na audiência pública promovida em 14 de outubro de 2025 pela Comissão Especial de Transição Energética da Câmara, representantes do setor mineral, da pesquisa e do governo apresentaram visões convergentes quanto à urgência de instituir a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos via o PL 2780/2024. Os convidados destacaram, entre outros pontos, a necessidade de garantias para projetos emergentes, a importância de um mapeamento geológico robusto e a definição clara entre os minerais que são críticos e o que são estratégicos para o Brasil.

O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) apresentou o parecer ao Projeto de Lei 2780/2024, que cria a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE) e o Comitê de Minerais Críticos e Estratégicos (CMCE), com o objetivo de preparar o país para os desafios da transição energética e fortalecer a cadeia produtiva mineral.

O parecer organiza a política em três eixos — taxonomia, governança e instrumentos — e propõe metas, incentivos fiscais e financeiros, além do fortalecimento do licenciamento ambiental e da transparência de dados. Segundo Jardim, o parecer busca “colocar o Brasil na vanguarda da nova economia verde, garantindo segurança na oferta de minerais estratégicos e impulsionando o desenvolvimento sustentável”.

O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, destacou que os minerais críticos e estratégicos são indispensáveis para o sucesso da transição energética e de baixo carbono, lembrando que a demanda global por esses insumos crescerá de forma exponencial. “Transitar de uma economia fóssil para uma economia sustentável requer mais e melhores minerais críticos e estratégicos”, afirmou. Ele explicou que a substituição de fontes fósseis por energias renováveis multiplicará por “até seis ou mais vezes” a necessidade desses recursos, reforçando a urgência de políticas que preparem o Brasil para atender à nova demanda mundial.

Jungmann também ressaltou que a importância dos minerais vai além da energia limpa, abrangendo ainda segurança alimentar . “Esses minerais são absolutamente importantes, por exemplo, para o combate à fome. Nós estamos falando de potássio, de fosfato, de nitrogenato”, disse, alertando para a dependência brasileira de importações e para o potencial interno de produção. O dirigente enfatizou ainda que o avanço da mineração deve ocorrer com compromisso socioambiental e distribuição justa dos benefícios, defendendo que “não podemos pensar numa transição justa e equitativa que não traga benefícios para todos”.

Fundo Garantidor

Durante o encontro, o deputado Arnaldo Jardim confirmou que o relatório da proposta sobre o marco legal dos minerais críticos e estratégicos prevê a criação de um Fundo Garantidor da Atividade Mineral — instrumento financeiro de natureza privada destinado a oferecer garantias de crédito a empresas do setor, especialmente as junior mining. Segundo o parlamentar, o fundo será formado por cotas integralizadas pela União e por companhias do segmento, com gestão de uma instituição qualificada escolhida por processo seletivo público. O objetivo, explicou, é ampliar o acesso a financiamentos e reduzir os riscos de crédito enfrentados por mineradoras de pequeno e médio porte nas fases iniciais da cadeia produtiva.

Já o diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), José Luis Gordon, destacou o componente financeiro e institucional da proposta. Ele lembrou que o banco, em parceria com a Vale, já estruturou um fundo garantidor voltado às junior companies, atualmente em fase final para início dos investimentos. Gordon apontou que o acesso a garantias permanece como o principal obstáculo ao financiamento do setor e defendeu que o novo fundo em discussão no Congresso tenha escopo ampliado para abarcar também tecnologias verdes e projetos de transição energética, fortalecendo a integração entre mineração, inovação e sustentabilidade.

Complementando essa visão, Pedro Paulo Dias (BNDES) destacou que muitos projetos já chegam ao banco “com estudos de viabilidade, com licença ambiental e parceiros”, aguardando apenas estrutura de financiamento. Ele também sublinhou que o novo regulamento socioambiental do BNDES já exige que os projetos compartilhem ganhos com as comunidades locais: “reforçamos aqui todos os parâmetros relacionados à responsabilidade socioambiental… compartilhar de fato os ganhos da mineração com as comunidades no seu entorno é algo que a gente vai exigir de todos os projetos”, destaca Dias.

Arcabouço Científico e Tecnológico do Brasil

No painel sobre pesquisa mineral e tecnologia, Silvia França, do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), ressaltou que o avanço da mineração precisa caminhar junto ao fortalecimento da ciência e da inovação. “O Brasil é um país extremamente rico em insumos minerais, mas também é rico em instituições de ciência e tecnologia e boas universidades”, afirmou. Segundo ela, o desenvolvimento tecnológico não deve ser tratado como um apêndice do extrativismo, mas como parte de uma política pública estruturada e de longo prazo.

A pesquisadora defendeu ainda a necessidade de investimentos contínuos e robustos para consolidar a área de tecnologia mineral. “Nós precisamos de investimentos perenes para a área de tecnologia mineral — e robustos, não apenas perenes”, enfatizou. Silvia lembrou que o CETEM ainda enfrenta restrições orçamentárias, embora tenha direito a 1,8% da arrecadação da CFEM destinada à pesquisa e desenvolvimento, e advertiu que, sem o fortalecimento do setor mineral, “planos do Estado não se sustentam”, afirma.

O representante do Ministério de Minas e Energia, Anderson Arruda (MME) insistiu no ponto da vantagem competitiva nacional, lembrando que o país já produz energia limpa em mais de 90% de sua matriz e que, em estudos comparativos de preços baixos e altos, o Brasil aparece como o mais competitivo entre produtores de minerais críticos em diversos cenários. Ele reforçou que a demanda por minerais como lítio, cobre e níquel pode multiplicar-se “até 10 vezes” e que, para dar conta disso, o país precisa ampliar o mapeamento geológico.

Além disso, Arruda situou o quadro de segurança alimentar dentro da agenda mineral: assinalou que o Brasil importa mais de 90% dos fertilizantes usados internamente e advertiu que “é importante que minerais como fosfato e potássio tenham a mesma atenção”, disse, se referindo aos recursos mais cobiçados, como as terras raras. Ele também mencionou que o CNPM (Conselho Nacional de Política Mineral), cuja primeira reunião será na quinta-feira, dia 16, deve funcionar como instância de governança e diálogo entre Executivo, Legislativo e sociedade.

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