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Vozes que iluminam o passado: a História Oral na construção da memória do setor elétrico
Por Memória da Eletricidade

Vozes que iluminam o passado: a História Oral na construção da memória do setor elétrico

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 3 de novembro de 2025

História Oral no setor elétrico: como a Memória da Eletricidade preserva relatos e identidades há quase quatro décadas

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Altino Ventura Filho, ex-presidente da Eletrobras, durante depoimento para o Programa de História Oral da Memória da Eletricidade. Foto: Arthur Baptista | Acervo Memória da Eletricidade

A tradição oral é praticada desde os primórdios da humanidade. Milhares de anos antes da escrita existir, povos já se comunicavam por meio da fala, transmitindo aprendizados, saberes, crenças, mitos e até ritos de geração em geração. Os griots, contadores de história da África Antiga, por exemplo, ajudaram a preservar a cultura do continente e a memória dos antepassados por meio da oralidade. Já Heródoto, conhecido como o pai da História, recorreu, principalmente, à observação direta e a depoimentos para elaborar a obra sobre a invasão persa da Grécia. Em ambos os casos, os relatos formaram uma ponte entre as vivências e os registros.

A memória forma identidade, tanto pessoal quanto coletiva, preserva a cultura, e, ao traçar os passos do passado, se consolida como legado para o presente e o futuro. A História como disciplina começou a se consolidar a partir do século XVI, com a preocupação da Europa de considerar somente fatos e textos como autênticos após verificações, e, desde então, os documentos escritos são

fundamentais na prática do historiador. A partir disso, já nos anos 1950, a História Oral surge como uma das formas de produção destes registros.

Baseado em entrevistas, o método de pesquisa busca conhecer e aprofundar aspectos sobre determinada realidade, sejam padrões culturais, estruturas sociais, processos históricos e até laços do cotidiano. Resgata informações guardadas nas lembranças do depoente que ajudam a compreender contextos específicos e até a abrir novas perspectivas sobre determinados acontecimentos.

Durante as décadas de 1980 e 1990, empresas ao redor do mundo, principalmente de ramos estratégicos, buscavam por reconhecimento histórico, maior organização institucional e fortalecimento de identidades corporativas. É nesse contexto que a Memória da Eletricidade surge, criada pela Eletrobras em 1986 com objetivo de preservar e divulgar a trajetória do setor elétrico brasileiro.

Programa de História Oral e a Memória da Eletricidade

O Programa de História Oral nasceu praticamente junto com a própria instituição. Em seus 39 anos de existência, a Memória da Eletricidade já desenvolveu 19 projetos utilizando esse método, reunindo quase 300 entrevistados. Em alguns casos, a metodologia foi o eixo central da pesquisa; em outros, funcionou como um complemento para outros estudos. Com o avanço da tecnologia, as formas de registro e armazenamento também evoluíram, das fitas cassete aos DVDs, chegando hoje aos vídeos em alta resolução.

O primeiro projeto da instituição teve como foco investigar e consolidar informações sobre o período anterior à criação da Eletrobras, entre 1954, quando o projeto de desenvolvimento da empresa foi enviado ao Congresso Nacional, e 1962, ano de sua efetiva instalação. A iniciativa começou a ser estruturada em 1986, poucos meses antes da fundação da Memória da Eletricidade, a partir de um convênio com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), referência nacional no uso da metodologia da História Oral.

Na época, foram coletados 19 depoimentos, totalizando 110 horas de gravação, com profissionais que participaram ativamente do setor elétrico e tiveram papel

decisivo nas discussões e decisões que levaram à criação da Eletrobras, hoje Axia Energia. As entrevistas, classificadas entre histórias de vida e temáticas, foram conduzidas por pesquisadores do CPDOC. As etapas seguintes como a transcrição, datilografia e organização do material, ficaram sob responsabilidade da Memória da Eletricidade.

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Historiador Paulo Brandi durante depoimento de História Oral. Foto: Leila Guimarães | Acervo Memória da Eletricidade

Historiador e pesquisador da Memória da Eletricidade, desde a sua criação, Paulo Brandi reforça a importância da História Oral e detalha a organização do programa precursor. “Muitas vezes ela ilumina um assunto, traz novas informações e revelações que podem ser de grande interesse e que não estão nos documentos usuais que o historiador sempre trabalha, além de contar com esse lado da subjetividade, da vivência dos agentes… É nesse fator que eu enxergo a sua grande validade”, afirma.

“Neste primeiro trabalho, foram entrevistadas figuras proeminentes da história do setor elétrico, como John Cotrim (fundador e primeiro presidente de Furnas); Lucas Lopes (primeiro presidente da Cemig); Paulo Richer (primeiro presidente da Eletrobras); e Mario Bhering (quarto presidente da Eletrobras e fundador da Memória)… Eles tinham muito a contar, sobre a Chesf, sobre a Cemig, que já tinham uma atuação forte anterior à criação da Eletrobras. Foi um programa muito importante, abriu novos caminhos no setor”, lembrou.

História Oral de vida X História Oral empresarial

Os programas geralmente se desenvolvem em duas direções principais. A primeira está associada às comemorações de aniversário das empresas, como os 50 anos da Eletrobras (2012), os 35 anos do Cepel (2009) e o Centenário da Light (2005), entre outros. Nesses momentos, os temas costumam ter um caráter mais abrangente, abrindo espaço para que diferentes colaboradores compartilhem suas experiências. O propósito é registrar as histórias internas e, simultaneamente, fortalecer o vínculo entre as pessoas e a própria organização.

A segunda linha de atuação busca reconstruir a trajetória de instituições ou de iniciativas específicas, como os estudos voltados à história da eletrificação rural e da universalização da energia elétrica; à criação do Operador Nacional do Sistema (ONS); à relação entre o meio ambiente e o setor elétrico brasileiro; e às conexões internacionais que envolvem a integração energética na América do Sul, entre outros temas.

Paulo Brandi recorda que, entre os diversos programas dos quais participou, um dos mais significativos foi aquele dedicado a reunir informações sobre o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro, intitulado “O planejamento da expansão do setor de energia elétrica: a atuação da Eletrobras e do Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos – GCPS”. Na ocasião, as entrevistas seguiram a metodologia da História Oral, mas o foco principal era a produção de duas publicações: uma sobre a história do GCPS e outra reunindo os relatos dos entrevistados. Ambos os livros estão disponíveis no acervo da Rede Bibliotecas da Energia.

“Quanto mais informações o entrevistador tem sobre o tema e sobre a atuação do entrevistado, mais frutos ele colhe. Todas as entrevistas se baseiam em

roteiros elaborados a partir de pesquisa, notícias, currículo do depoente. Chegar na conversa preparado é fundamental. No decorrer, também é comum que novas questões venham a surgir, para além do roteiro”, acrescentou o pesquisador.

Memória Institucional x Memória Organizacional

Ao falar em memória corporativa, é importante diferenciar dois conceitos complementares: Memória Institucional e Memória Organizacional.

A Memória Institucional é o conjunto de registros, lembranças, práticas e narrativas que preservam a trajetória, identidade e valores de uma instituição. Ela se materializa em documentos, imagens, depoimentos e objetos, mas também vive na experiência das pessoas que fizeram e fazem parte dessa história.

No entanto, para o legado se consolidar, ele precisa ser sustentado pela Memória Organizacional, que são os registros e dados do cotidiano da empresa que, ao longo do tempo, se tornam parte da história, como manuais, procedimentos operacionais, relatórios de projetos, indicadores internos etc. Enquanto isso, a Memória Institucional proporciona contexto histórico e identidade a esses fatores, o que pode orientar e até inspirar futuras ações da instituição. As duas dependem de organização dos documentos, registros constantes e troca de informações.

A Memória Institucional pode dar origem a uma série de produtos que ajudam a preservar e divulgar a história da organização. Entre eles estão as publicações, como livros comemorativos, catálogos de exposições, cadernos de história oral e álbuns fotográficos. Também podem ser realizadas exposições e mostras, presenciais ou virtuais, com recortes temáticos que abordem projetos, pessoas, obras e marcos históricos.

No ambiente digital, a memória pode se transformar em vídeos documentais, podcasts, galerias virtuais e publicações para redes sociais. Outra possibilidade é o desenvolvimento de material educativo, como jogos de memória, cartilhas, guias temáticos e recursos voltados para treinamentos e integração de novos colaboradores. Por fim, também é possível criar produtos institucionais, como

calendários, agendas, brindes e objetos personalizados com imagens e histórias da empresa.

Conheça os depoimentos e projetos de História Oral da Memória

As entrevistas de História Oral realizadas pela Memória da Eletricidade, disponíveis em formato de vídeo e áudio, constituem um importante acervo de relatos pessoais e profissionais que ajudam a compreender a trajetória do setor elétrico brasileiro sob diferentes perspectivas. Esses registros, produzidos ao longo de diversas iniciativas de preservação da memória institucional e setorial, estão integralmente disponíveis no site da instituição, juntamente com os produtos derivados dessas ações, como publicações, documentários e exposições virtuais, que ampliam o acesso e a compreensão desse patrimônio imaterial.

Para conhecer mais basta acessar o site do acervo.

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