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O Complexo de Lajes: engenharia ousada que transformou o abastecimento do Rio de Janeiro
Por Memória da Eletricidade

O Complexo de Lajes: engenharia ousada que transformou o abastecimento do Rio de Janeiro

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 11 de dezembro de 2025

No início do século XX, o Rio de Janeiro vivia um momento de expansão acelerada e de reforma urbana do prefeito Pereira Passos, complementada com grandes obras do governo federal. A então capital federal crescia em população e serviços, mas ainda não contava com um sistema elétrico compatível com a sua demanda. Esse quadro se transforma com a chegada da Rio Light, que representou um marco fundamental na história da eletrificação da cidade. A empresa executou de imediato projetos de grande envergadura para a época, contribuindo para o processo de modernização da capital federal e de expansão das atividades urbano-industriais.

A iniciativa começou com a Usina de Fontes, inaugurada em 23 de maio de 1908 e reconhecida como a primeira hidrelétrica de grande porte do Brasil. Até então, o país dependia fortemente do carvão importado para gerar eletricidade, um modelo caro, instável e insuficiente. Fontes trouxe uma virada estrutural.

Nos anos 1940, sob liderança técnica do engenheiro Asa Billings, nasceu o plano para ampliar significativamente o aproveitamento de Ribeirão das Lajes. Os estudos e o projeto do alteamento da barragem foram aprovados pelo Governo Federal em 1940.

A obra avançou rapidamente, acompanhando a expansão da demanda elétrica:

  • Dezembro de 1940: cota elevada para 420 metros
  • Agosto de 1943: nova elevação para 432 metros
  • Sobre a antiga barragem, construída no início do século, ergueu-se uma barragem de contrafortes de Fontes Nova, que atingiu a cota 423 e permitiu aumentar o volume de água represada de 180 milhões para 752,3 milhões de m³.

    Essa ampliação exigiu a construção de dois túneis de adução com 2.200 metros de comprimento, capazes de conduzir o novo volume de água acumulado. O passo mais arriscado foi a transferência das tomadas de água para a nova barragem, operação que demandou a perfuração do paramento de concreto da estrutura antiga a 35 metros de profundidade, um feito de engenharia notável para a época.

    Para elevar ainda mais a capacidade do sistema da Rio Light, Asa Billings concebeu o ousado plano do desvio Paraíba–Piraí. A obra previa captar as águas dos rios Paraíba do Sul, Piraí e do córrego do Vigário e direcioná-las para o aproveitamento de Lajes.

    As etapas se sucederam de forma decisiva:

    1952: conclusão da obra e início das operações das usinas de bombeamento

    Santa Cecília (rio Paraíba do Sul): 17.470 kW

    Vigário (rio Piraí): 45.410 kW

    1954: ampliação das capacidades

    Santa Cecília passa a 34.960 kW

    Vigário alcança 90.820 kW

    Os novos reservatórios formados pelo desvio foram essenciais para viabilizar a construção da usina subterrânea de Nilo Peçanha, em Barra do Piraí.

    Nilo Peçanha e a expansão do sistema

    A usina Nilo Peçanha foi inaugurada no final de 1953 com duas unidades geradoras de 35.000 kW cada. Entre março e julho de 1954, mais quatro unidades, agora com 65.000 kW cada, entraram em operação, totalizando 330.000 kW de capacidade instalada.

    Um detalhe notável: seus geradores podiam operar em 50 ou 60 ciclos, permitindo que a energia produzida atendesse simultaneamente os sistemas do Rio de Janeiro (50 Hz) e de São Paulo (60 Hz). Essa flexibilidade foi decisiva para a integração energética entre os dois estados.

    Completando o aproveitamento hidráulico de Ribeirão das Lajes, a Rio Light iniciou em 1956 a construção da usina de Ponte Coberta, localizada a 4 km das centrais de Fontes e Nilo Peçanha. A usina seria inaugurada em 1962, consolidando o conjunto hidrelétrico que hoje reconhecemos como Complexo de Lajes.

    Um legado que moldou o Rio de Janeiro

    O Complexo de Lajes não apenas garantiu segurança energética para um estado em franco crescimento, como também impulsionou inovação tecnológica e soluções industriais que colocaram o Brasil entre os países com maior domínio de engenharia hidrelétrica no século XX.

    Imagem 1.  Elevação da barragem do Ribeirão das Lajes, da Usina Hidrelétrica Fontes Nova | Acervo Memória da Eletricidade
    Imagem 1. Elevação da barragem do Ribeirão das Lajes, da Usina Hidrelétrica Fontes Nova | Acervo Memória da Eletricidade

    Com sua ampliação e modernização, o Complexo de Lajes tem capacidade instalada de 629 megawatts (MW). Seus oito reservatórios garantem, ainda hoje, 95% da água consumida por toda a região metropolitana do Rio.

    Mas a magnitude de Lajes não se mede apenas em potência elétrica. Hoje conhecida como Lajes-Light, o Complexo de Lajes recebeu a certificação International REC Standard (I-REC) em reconhecimento ao compromisso do empreendimento em produzir energia sem poluentes atmosféricos ou resíduos tóxicos. O I-REC é um sistema global que possibilita comercializar, emitir e transferir certificados de energia renovável mediante um criterioso processo de verificação.

    A trajetória do Complexo de Lajes é tecida junto à preservação do meio ambiente, mantendo um dos mais duradouros programas de reflorestamento do país e preservando a maior reserva privada de Mata Atlântica no Brasil.

    Sustentabilidade e pioneirismo

    O Programa de Recuperação de Áreas Degradadas da Light já plantou mais de 3,5 milhões de mudas nativas, que são cultivadas em dois viveiros que podem produzir 55 mil mudas por ano. Por meio dessa restauração ambiental, uma considerável área de floresta se tornou abrigo para uma diversa biodiversidade. Mais de 216 espécies de animais, entre onça-parda, lobo-guará, azulão e pato-do-mato, são preservadas – sendo 64 delas monitoradas e 36 resgatadas e soltas em locais com autorização.

    Imagem 2. Elevação da barragem do Ribeirão das Lajes, da Usina Hidrelétrica Fontes Nova | Memória da Eletricidade
    Imagem 2. Elevação da barragem do Ribeirão das Lajes, da Usina Hidrelétrica Fontes Nova | Memória da Eletricidade

    O Complexo de Lajes segue sendo um símbolo de um país capaz de transformar desafios em energia e de gerar com inovação e compromisso ambiental.

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