Desembargador zera passivo de 42 mil processos no TRF1
AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Conteúdo de responsabilidade da empresa 26 de agosto de 2025
Eduardo Moraes da Rocha eliminou 42 mil ações acumuladas no TRF1. Iniciativa já inspira outros tribunais e chama atenção da OAB, CNJ e até do INSS. Método que pode revolucionar o Judiciário.

REPORTAGEM ESPECIAL | JUDICIÁRIO
Por Warley Pereira e Teodoro Diniz
Quando assumiu como desembargador do TRF1, em abril de 2022, Eduardo Moraes da Rocha se deparou com um cenário desafiador: 42 mil processos em tramitação, o maior acervo do país entre desembargadores da Justiça Federal. Cerca de 65% das ações envolviam o INSS, com demandas por aposentadorias, auxílios e benefícios de prestação continuada – muitos movidos por idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade.
Com sede em Brasília, o TRF1 tem jurisdição nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins. “Encontrei processos em que o titular do direito morreu antes do julgamento. Tive que habilitar herdeiros. Justiça tardia não é justiça”, diz o magistrado.
Foi nesse cenário que nasceu o Gabinete Zero, um projeto de reestruturação de gestão processual. Baseado em ferramentas simples, como planilhas do Excel e nuvem do OneDrive, o modelo criou um sistema de triagem, classificação e organização de julgamentos – tudo sem qualquer custo extra para o tribunal.
O desembargador conta que precisou suspender por dois meses julgamentos de processos para reorganizar seu gabinete. A aposta em uma nova metodologia de trabalho deu certo: o gabinete de Rocha zerou o passivo em dois anos e meio. De 600 processos que entram todo mês, no gabinete de Rocha, apenas quatro aguardam julgamento. Algo inédito na justiça brasileira.
E o mais importante é que essa metodologia não comprometeu a qualidade das decisões. “Nosso índice de reforma é um dos menores de todo o tribunal. Além de produtivo, nosso gabinete entrega julgados com alta consistência técnica”, diz Rocha.
Metodologia e engajamento dos servidores
O coração do projeto está em três planilhas interligadas, usadas para classificar os processos por matéria, outra para triagem completa dos casos, e uma terceira para montar as pautas de julgamento – já que, no segundo grau, as decisões são colegiadas. Mas o sucesso do projeto não se explica apenas pela organização técnica. os servidores passaram a se sentir parte do projeto, com especialização técnica e senso de pertencimento.
Para Rocha, o que realmente moveu a mudança foi o engajamento dos servidores. “Era preciso criar um sentimento de pertencimento. Transformamos a cultura do gabinete. Hoje, todos aqui sabem o impacto do que fazem na vida das pessoas”, afirma.
Esse impacto é real. Muitos dos processos tratam de valores que representam a única renda de famílias. “Para quem vive com um salário mínimo, dois meses de atraso no julgamento podem significar fome. Nós não estamos julgando papéis – estamos julgando a sobrevivência”, diz o desembargador.
Resposta à crise de morosidade no Judiciário
“Julgar não é apenas aplicar a lei. É aplicar com consciência do tempo e da realidade do jurisdicionado”, avalia Rocha. Para o desembargador, o projeto é uma resposta à crise de morosidade no Judiciário, mas também um chamado à responsabilidade pública. “Nós somos servidores. Servimos ao cidadão. E o tempo do cidadão tem que ser respeitado. Não basta decidir: é preciso decidir em tempo útil, com qualidade e com humanidade.”
O desembargador conta que deseja compartilhar com outros juízes a metodologia do Gabinete Zero. “Minha ideia é universalizar essa prática. Não quero que ela fique restrita ao meu gabinete. Com mais de 90 tribunais no país, acredito que, por meio da divulgação podemos combater a morosidade do Judiciário em escala nacional”, afirma Rocha.
Iniciativa chama atenção da OAB e CNJ
A simplicidade e a eficiência do modelo de gestão chamaram a atenção da OAB, Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e também do Conselho da Justiça Federal (CJF), juízes e desembargadores de outros tribunais também já procuraram o gabinete de Rocha para replicar o modelo.
O INSS também procurou o desembargador interessado em estudar a metodologia para enfrentar o problema das filas no órgão. “Não quero que essa prática fique só comigo. Quero universalizar. Qualquer tribunal pode aplicar”, afirma.
“A atuação do desembargador é exemplar, mostrando que planejamento, gestão transparente e valorização da equipe são essenciais para enfrentar o desafio do acúmulo processual sem comprometer a qualidade das decisões judiciais”, diz Beto Simonetti, presidente da OAB.
Agora, Rocha avança para a próxima etapa: integrar inteligência artificial às planilhas, para automatizar a triagem dos processos — hoje feita manualmente. “Se tivéssemos isso no começo, não precisaríamos parar o gabinete por dois meses. Uma IA faria em um fim de semana o que fizemos em 60 dias”, explica.
Ele ressalta, no entanto, que a tecnologia deve sempre ser submetida à revisão humana. “A inteligência artificial é um meio, não o fim. A decisão final continuará sendo humana.”
O “Gabinete Zero” mostra que a solução para a morosidade judicial não depende apenas de grandes investimentos, mas de gestão, método e engajamento. Ao zerar um passivo histórico de 42 mil processos, Eduardo Moraes da Rocha aponta caminhos para um Judiciário mais ágil, próximo do cidadão e capaz de devolver, em tempo útil, aquilo que a Justiça mais deve garantir — dignidade para milhares de brasileiros.
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