Rota Brasil <-> Mundo: Ricardo Bloj

Transformação inteligente: Lenovo busca consolidar-se com uma fornecedora de tecnologia e serviços

12 de novembro de 2025

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Rota Brasil <-> Mundo: Ricardo Bloj

Por quase quatro décadas, a Lenovo construiu sua reputação como uma das maiores fabricantes de computadores do mundo. Mas, para Ricardo Bloj, presidente da Lenovo Brasil, o futuro da companhia passa por uma redefinição profunda: ser reconhecida não apenas como uma empresa de hardware, mas como uma fornecedora de tecnologia e serviços baseados em IA. “A gente leva a inteligência artificial como um poder de transformação. Hoje falamos de transformação inteligente, e não apenas digital”, afirma o executivo, que está na Lenovo desde 2015 e tem mais de 25 anos de experiência no setor de TI.

Ricardo Bloj, presidente da Lenovo Brasil. Foto: Daniel Teixeira/Estadão Blue Studio

Fundada em 1984, em Pequim, a Lenovo se tornou uma empresa global a partir de 2005, com a aquisição da divisão de computadores pessoais da IBM. Hoje atua em 180 mercados, o que, segundo Bloj, é decisivo para o avanço da operação brasileira. “Esse posicionamento global ajuda muito no desenvolvimento de novos mercados. A gente tem toda a potência de produtos e serviços mundiais que conseguimos trazer rapidamente para o Brasil, junto com investimentos e inovação”, explica.

A operação local é também um centro de criação. A Lenovo investe cerca de R$ 200 milhões por ano em pesquisa e desenvolvimento no país, e parte das tecnologias embarcadas nos equipamentos da marca no mundo nasce aqui. Um exemplo é o sistema de diagnóstico e gerenciamento que equipa mais de 800 milhões de computadores globalmente, desenvolvido por engenheiros e analistas brasileiros. “Não é só receber tecnologia. A gente também produz inovação a partir daqui”, destaca Bloj.

A revolução da IA

O avanço da inteligência artificial — especialmente a generativa — é visto por Bloj como a transformação tecnológica mais significativa dos últimos 40 anos. “O que vamos ver nos próximos dez anos não se compara ao que já vivemos com o computador pessoal, a internet ou o smartphone”, diz. Para ele, a velocidade da adoção é um indicador claro: enquanto a internet levou sete anos para atingir 50 milhões de usuários, a IA generativa alcançou a mesma marca em apenas cinco semanas. “Isso mostra o tamanho da disrupção”, observa.

A Lenovo vem se preparando para essa nova fase há anos. Seus computadores mais recentes já contam com processadores neurais dedicados capazes de executar tarefas de IA diretamente nos dispositivos, sem depender integralmente da nuvem. Essa evolução, afirma Bloj, representa o início de uma nova geração de equipamentos inteligentes, capazes de lidar com cargas de trabalho mais complexas, como geração de vídeos e apresentações em tempo real.

Mas o salto da companhia não está apenas no hardware. A Lenovo vem consolidando sua transição para um modelo de negócios baseado na diversidade de opções para o cliente, o que inclui desde o conceito de “dispositivo como serviço” — em que empresas deixam de comprar equipamentos e passam a pagá-los pelo uso — até plataformas completas de infraestrutura em nuvem. “Não é um equívoco dizer que a Lenovo é uma empresa de serviços. É exatamente para onde estamos indo. Nosso DNA é o hardware, mas o futuro está na combinação com serviços agregados”, explica Bloj.

Uso responsável de dados

Com mais de 600 projetos internos de IA em andamento, a Lenovo também se destaca pela governança. Todos os projetos passam por comitês de aprovação e seguem protocolos rígidos de segurança, ética e sustentabilidade. “A governança é fundamental. Não se trata apenas de implementar inteligência artificial por implementar. É preciso saber o que o projeto busca, como será executado e qual impacto vai gerar”, diz Bloj. Ele reforça que os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) norteiam todas as iniciativas da empresa, do uso responsável de dados à inclusão e diversidade.

A pesquisa CIO Playbook, realizada pela Lenovo com mais de 200 líderes de tecnologia da América Latina, mostra que 65% das empresas já têm algum tipo de projeto de IA implementado — e a maioria envolve aplicações generativas. “As empresas estão vendo a IA não só como ferramenta de produtividade, mas como um meio de reinventar o negócio. Quem não olhar para isso agora vai ficar para trás”, alerta Bloj.

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A Série de Entrevista: Rota Brasil <-> Mundo é um espaço para convidados compartilharem suas perspectivas e inspirações na relação comercial entre o mercado brasileiro e mundial. As informações e opiniões formadas neste artigo são de responsabilidade única do autor. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.